segunda-feira, 16 de abril de 2018

A EDUCAÇÃO DOS FILHOS

O melhor presente é estar presente


A Anita devia ter uns cinco anos quando saiu com essa: Pai, você já notou que os brinquedos são muito mais legais na loja e nas propagandas do que na nossa casa?. Tadinha. Lá em casa, os brinquedos não voam, como na televisão. Lá em casa, os brinquedos não são brilhantes e plastificados, como na loja. Interessante como a Anita levou só cinco anos pra descobrir que a gente gosta mesmo é do ato de comprar: depois que a gente tem, perde a graça.
Foi então que a gente começou a tentar fazer nossos próprios brinquedos. Começamos a guardar as caixas de papelão. Uma virou casinha, outra virou um foguete todo pintado. Usamos folhas de papel em branco para fazer nossos próprios jogos de tabuleiro. Criamos um caminho, caiu na casa da Galinha Pintadinha tem que cantar uma música. Caiu na casa da professora Isabela tem que contar até três em francês. “Un, deux, trois!”, diz a Anita, pra andar três casas com o peão feito de tampa de garrafa pet.
Pai fresco, sempre achei que comprar presentes substituiria meu tempo ausente. Trabalhava muito, então sempre levava uma lembrancinha das viagens, um livro de princesa, um coelhinho de pelúcia inofensivo. Mas três coisas aconteciam: um, os brinquedos não substituíam a minha ausência (spoiler: nada substitui sua ausência, pai); dois, minha filha ficava acostumada a sempre ganhar alguma coisa e, quando eu chegava, só perguntava do presente; e três, ela brincava com o presente por uns dois segundos, pra o deixar abandonado em algum canto da casa.
Aprendi o seguinte: os brinquedos mais divertidos são os mais simples. Uma cartela de adesivos representa horas de diversão ao custo de cinquenta centavos. Um palito, uma vez lá em casa virou varinha de condão, espada, arma de raio laser e foi a grande sensação do Natal (ao custo de zero reais). Mas nada deixa as crianças mais animadas do que jogá-las para o alto e pegá-las antes de caírem no chão. Será uma eternidade de “de novo!”, ao custo de um mau jeito nas costas.
A Anita vai crescendo e, eventualmente, se deixando seduzir por brinquedos mais caros. Ela veio esses dias com um papo de que queria um Apple Watch, ia ganhar dinheiro das duas avós no Natal, juntar com um dinheiro antigo, vender uns tênis velhos na internet pra poder comprar. Fomos na loja ver aquela coisa, ela mexeu por uns dois minutos pra sentenciar: “Que coisa mais sem graça, pai. Vamos embora”.
A capacidade de entender que algo é melhor na propaganda do que na vida real talvez tenha sido meu melhor presente pra ela.
Tive que viajar para uma palestra e no evento ganhei um macaquinho de pelúcia. “Dá de presente pras suas filhas”, me disse a contratante, superbem intencionada. Eu agradeci. Mas no avião, voltando pra casa, passou pela minha cabeça o que ia acontecer quando chegasse em casa: minhas duas filhas iriam brigar pelo macaco, eu diria que era um presente para as duas, a mais nova iria chorar, a mais velha iria agarrar o macaco, eu diria pra mais velha deixar a mais nova brincar, a mais velha iria chorar, a mais nova ficaria com o macaco por trinta segundos para então abandoná-lo no meio da sala, a mais velha continuaria chorando porque fui injusto com ela.
Olhei para um pai que estava com um bebê no colo. “Tó, de presente pra você e seu filho”.
Ele agradeceu, surpreso. Espero que ele saiba: nada substitui sua presença, pai. 
Marcos Piangers

terça-feira, 27 de março de 2018

UM SIMPLES CONSELHO

Certa vez um jovem muito rico foi procurar um rabi para lhe pedir um conselho. Toda a fortuna que possuía não era capaz de lhe proporcionar a felicidade tão sonhada. Falou da sua vida ao rabi e pediu ajuda.
Aquele homem sábio o conduziu até uma janela e lhe pediu para que olhasse para fora com atenção, e o jovem obedeceu.
– O que você vê através do vidro, meu rapaz?
– Vejo homens que vêm e vão, e um cego pedindo esmolas na rua.
Então o homem lhe mostrou um grande espelho e novamente o interrogou:
– O que você vê neste espelho?
– Vejo a mim mesmo, disse o jovem prontamente.
– E já não vê os outros, não é verdade?
E o sábio continuou com suas lições preciosas:
– Observe que a janela e o espelho são feitos da mesma matéria prima : o vidro. Mas no espelho há uma camada fina de prata colada ao vidro e, por essa razão, você não vê mais do que a sua própria pessoa. Se você se comparar a essas duas espécies de vidro, poderá retirar uma grande lição. Quando a prata do egoísmo recobre a nossa visão, só temos olhos para nós mesmos e não temos chance de conquistar a felicidade efetiva. Mas quando olhamos através dos vidros limpos da compaixão, encontramos razão para viver e a felicidade se aproxima.
Por fim, o sábio lhe deu um simples conselho:
– Se quiser ser verdadeiramente feliz, arranque o revestimento de prata que lhe cobre os olhos para poder enxergar e amar aos outros. Essa é a chave para a solução dos seus problemas. Se você também não está feliz com as respostas que a vida tem lhe oferecido, talvez fosse interessante tentar de outra forma. Muitas vezes, ficamos olhando somente para a nossa própria imagem e nos esquecemos de que é preciso retirar a camada de prata que nos impede de ver a necessidade à nossa volta. Quando saímos da concha de egoísmo, percebemos que há muitas pessoas em situação bem mais difícil que a nossa e que dariam tudo para estarem nosso lugar. E quando estendemos a mão para socorrer o próximo, uma paz incomparável nos invade a alma. É como se Deus nos envolvesse em bênçãos de agradecimento pelo ato de compaixão para com Seus filhos em dificuldades.
Ademais, quem acende a luz da caridade, é sempre o primeiro a beneficiar-se dela.

quinta-feira, 22 de março de 2018

Receita da Dona Suzete

Dona Suzete é uma senhora de 92 anos, miúda, e tão elegante, que todo o dia, às 8 da manhã ela já está toda vestida, bem penteada e discretamente maquiada, apesar de sua pouca visão. E hoje ela se mudou para uma casa de uma filha o marido, com quem ela viveu 70 anos, morreu recentemente, e não havia outra solução.
Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando a enfermeira que cuidava dela veio dizer que seu quarto estava pronto. Enquanto ela manobrava o andador em direção ao quarto, eu dei uma descrição do seu pequeno quartinho, inclusive das cortinas de tecido florido que enfeitavam a janela. Ela me interrompeu com o entusiasmo de uma a garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho.
“Ah, eu adoro essas cortinas.”
“Minha Avó Suzete, a senhora ainda não viu seu quarto, espera mais um pouco.”
“Isso não tem nada a ver, ela respondeu, felicidade é algo que você decide por princípio. Se eu vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília vai estar arrumada. Vai depender de como eu preparo a minha expectativa. E eu já decidi que vou adorar. É uma decisão que tomo todo dia quando acordo. Sabe, eu posso passar o dia inteiro na cama, contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem.”
“Simples assim?”
“Nem tanto; isso é para quem tem autocontrole e exigiu de mim um certo ‘treino’ pelos anos a fora, mas é bom saber que ainda posso dirigir meus pensamentos e escolher, em conseqüência, os sentimentos.”
Calmamente ela continuou:
“Cada dia é um presente; e, enquanto meus olhos se abrirem, vou focalizar o novo dia, mas também as lembranças alegres que eu guardei para esta época da vida. A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que guardou. Então, meu conselho para você é depositar um monte de alegrias e felicidades na sua ‘Conta de Lembranças’. E aliás, obrigada por este seu depósito no meu Banco de Lembranças. Como você vê, eu ainda continuo depositando e acredito que, por mais complexa que seja a vida, sábio é quem a simplifica.”
Depois me pediu para anotar:
1. Jogue fora todos os números não essenciais para sua sobrevivência. Isso inclui idade, peso e altura. Deixe seu médico se preocupar com eles. Para isso ele é pago.
2. Freqüente, de preferência, seus amigos alegres. Os “baixo-astrais” puxam você para baixo.
3. Continue aprendendo. Aprenda mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa. Não deixe seu cérebro desocupado. Uma mente sem uso é a oficina do diabo. E o nome do diabo é Alzheimer.
4. Curta coisa simples.
5. Ria sempre, muito e alto. Ria até perder o fôlego; ria para você mesma no espelho, ao acordar e que o sorriso seja sua última ‘atitude’ antes de dormir.
6. Lágrimas acontecem. Aguente, sofra e siga em frente. A única pessoa que acompanha você a vida toda é você mesmo. Esteja vivo enquanto você viver e seja uma boa companhia para si mesmo.
7. Esteja sempre rodeado daquilo de que você gosta: pode ser família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for. Seu lar é o seu refúgio, sua mente seu paraíso.
8. Aproveite sua saúde. Se for boa, preserve-a. Se está instável, melhore-a da maneira mais simples: caminhe, sorria, beba água, ore, veja comédias, leia piadas ou histórias de aventuras, romances e comédias.
9. Não faça viagens de remorsos. Viaje para o shopping, para cidade vizinha, para um país estrangeiro, pega carona numa cauda de cometa, imagine os mais diversos objetos formados pelas nuvens no céu, mas evite as viagens ao passado, pois você pode ficar retido na estação errada. Escolha as lembranças que quer ter; não se deixe dominar por elas ou perderá o direito à escolha.
10. Diga a quem você ama que você realmente o ama, e diga isso em todas as oportunidades, através do olhar, do toque, das palavras, das ações diárias e do carinho. Seja feliz com seu próprio sentimento e não exija retribuição; você terá, de graça, o que o outro sentir; nada mais, nada menos.
Autor: Carlos Augusto (Dedicada a minha avó, Suzete Alves Nepomuceno)

sexta-feira, 9 de março de 2018

LILI E A SOGRA (LENDA CHINESA)

Há muito tempo, uma menina chamada Lili se casou e foi viver com o marido e a sogra. Depois de algum tempo, passou a não se entender com a sogra.
Personalidades muito diferentes, Lili se irritava com os hábitos dela, criticando-a freqüentemente.
Meses se passaram e Lili e sua sogra, cada vez mais, discutiam e brigavam. De acordo com a antiga tradição chinesa, a nora tinha que se curvar à sogra e obedecê-la em tudo.
Lili, já não suportando mais conviver com a sogra, decidiu tomar uma atitude e foi visitar um amigo de seu pai. Depois de ouvi-la, ele pegou um pacote de ervas e lhe disse:
– Vou lhe dar várias ervas que irão envenenar lentamente sua sogra. Você não poderá usá-las de uma só vez para se livrar dela, porque isso causaria suspeitas. A cada dois dias, ponha um pouco destas ervas na comida dela. Agora, para ter certeza de que ninguém suspeitará de você quando ela morrer, você deve ter muito cuidado e agir de forma muito amigável. Nunca discuta, e a ajudarei a resolver seu problema, mas você tem que me escutar e seguir todas as instruções que eu lhe der.
– Sim, Senhor Huang, eu farei tudo o que o senhor me pedir – respondeu Lili.
Lili ficou muito contente, agradeceu ao Senhor Huang e voltou apressadamente para casa, para dar início ao projeto de assassinar sua sogra. Semanas se passaram e, a cada dois dias, Lili servia a comida “especialmente tratada” à sua sogra. Ela sempre se lembrava do que o Senhor Huang havia recomendado sobre evitar suspeitas e, assim, controlou o seu temperamento, obedecendo à sogra e tratando-a como se fosse sua própria mãe.
Depois de seis meses, a casa inteira estava com outro astral.
Lili tinha controlado o seu temperamento e quase nunca se aborrecia. Durante esse tempo, ela não teve discussões com a sogra, que agora parecia mais amável e mais fácil de lidar. As atitudes da sogra também mudaram, e elas passaram a se tratar como mãe e filha.
Um dia, Lili novamente foi procurar o Senhor Huang para lhe pedir ajuda e disse:
– Querido Senhor Huang, por favor, me ajude a evitar que o veneno mate minha sogra. Ela se transformou numa mulher agradável, e eu a amo como se fosse minha mãe! Não quero que ela morra por causa do veneno que eu lhe dei. Por favor, Senhor Huang, me ajude!
O senhor Huang sorriu e acenou com a cabeça.
– Lili, não precisa se preocupar. As ervas que lhe dei eram vitaminas para melhorar a saúde dela. O veneno estava na sua mente e na sua atitude, mas foi jogado fora e substituído pelo amor que você passou a dar a ela. Na China, existe uma regra dourada que diz:
“A pessoa que ama os outros também será amada!”
Lembre-se sempre:
“O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória. Por isso, tenha cuidado com o que planta!”.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

O que eu gostaria de ser

Na sala de aula, a professora pediu aos alunos que fizessem uma redação com o título “O que eu gostaria de ser”. O tema era livre: as crianças poderiam ser um personagem, um objeto, uma pessoa ou um animal…
Já em casa quando corrigia as redações dos seus alunos, deparou-se com uma que a surpreendeu. O marido entrou na sala nesse momento e, vendo-a chorar, perguntou o que havia acontecido. Ela apenas lhe entregou a redação e pediu que lesse.
O marido começou a ler:
“Eu queria ser uma televisão. Quero ocupar o espaço dela, viver como ela vive.
Ter um lugar especial para mim e conseguir reunir a minha família ao meu redor.
Ser levado a sério quando falar, ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções e perguntas.
E se eu estiver calado, quero receber a mesma atenção que a televisão recebe quando não funciona.
Ter a companhia do meu pai quando ele chega em casa, mesmo cansado.
Que a minha mãe me procure quando estiver sozinha e aborrecida, em vez de me ignorar.
Que os meus irmãos briguem para poderem estar comigo!
Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado de vez em quando, para passar alguns momentos comigo.
Por fim, como a televisão faz, quero poder divertir a todos de minha família.
Se eu fosse uma TV, eu viveria com a mesma intensidade que a televisão da minha casa vive.”
Ao terminar de ler, o marido emocionado diz para a esposa:
– Meu Deus, coitado desse menino… que pais que ele tem!
A professora olhou bem nos olhos do marido e disse chorando:
– Essa redação é do nosso filho!

O LÁPIS

              O lápis
O menino observava seu avô escrevendo em um caderno, e perguntou:
— Vovô, você está escrevendo algo sobre mim?
O avô sorriu,
e disse ao netinho:
— Sim, estou escrevendo algo sobre você.
 Entretanto, mais importante do que as palavras que estou escrevendo,
é este lápis que estou usando.
Espero que você seja como ele, quando crescer.
O menino olhou para o lápis, e não vendo nada de especial, intrigado, comentou:
— Mas este lápis é igual a todos os que eu já vi.
 O que ele tem de tão especial?
— Bem, depende do modo como você olha.
Há cinco qualidades nele que, se você conseguir vivê-las, será uma pessoa de bem e em paz com o mundo, respondeu o avô.
— Primeira qualidade:
assim como o lápis,
você pode fazer coisas grandiosas,
 mas nunca se esqueça de que existe uma  "mão"  que guia os seus passos,
e que sem ela o lápis não tem qualquer utilidade:
a mão de Deus.
— Segunda qualidade:
assim como o lápis,
de vez em quando você vai ter que parar o que está escrevendo,
e usar um "apontador".
Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas ao final, ele se torna mais afiado. Portanto, saiba suportar as adversidades da vida, porque elas farão de você uma pessoa mais forte e melhor.
— Terceira qualidade:
assim como o lápis,
permita que se apague o que está errado.
Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau,  mas algo importante para nos trazer de volta ao caminho certo.
— Quarta qualidade:
assim como no lápis,
o que realmente importa não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro dele.
Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você.
O seu caráter será sempre mais importante que a sua aparência.
— Finalmente, a quinta qualidade do lápis:
Ele sempre deixa uma marca.
Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida deixará traços e marcas na vida das pessoas, portanto, procure ser consciente de cada ação, deixe um legado, e marque positivamente a vida das pessoas.
(DEUS  te  Abençoe!)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

ATITUDES DE UM VENCEDOR, DÊ O MELHOR DE VOCÊ

Às vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas…
Perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta e interesseiro…
Seja gentil assim mesmo.
Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros…
Vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo…
Seja honesto e franco assim mesmo.
O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de
uma hora para outra…
Construa assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz, as pessoas podem sentir inveja…
Seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje pode ser esquecido amanhã…
Faça o bem assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante…
Dê o melhor de você assim mesmo.
E veja você que, no final das contas…
É entre VOCÊ e VOCÊ…
Nunca foi entre você e eles!

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O AMOR E O VELHO BARQUEIRO

 
Chegando, afinal à margem do grande rio, o Amor avistou três

barqueiros que se achavam indolentes,

recostados nas pedras.
Dirigiu-se ao primeiro:
– Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?
Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:
– Não posso, menino! É impossível para mim!
O Amor recorreu, então, ao segundo barqueiro, que se divertia em
atirar pedrinhas no seio tumultuoso da
correnteza.
– Não. Não posso – recusou secamente.
O terceiro e último barqueiro, que parecia o mais velho, não
esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio.
Levantou-se, tranqüilo, e, estendendo-lhe, bondoso, a larga mão
forte, disse-lhe:
– Vem comigo, menino! Levo-te sem demora para o outro lado.
Em meio a travessia, notando o amor a segurança com que o velho
barqueiro barquejava, perguntou-lhe:
– Quem és tu? Quem são aqueles dois que se recusaram a atender
ao meu pedido?
– Menino – respondeu,  paciente, o bom remador
-o primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo.
Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o 
Amor!

– E tu, quem és, afinal?

– Eu sou o Tempo, meu filho – atalhou o velho barqueiro.
– Aprende para sempre a grande verdade.
Só o Tempo é que faz passar o Amor!
E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento
de seus braços possantes fosse regulado
 por um pêndulo invisível e eterno.
Sofrimento,  desprezo… Que importa tudo isso ao
coração Apaixonado?
O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor.
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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

SENTA AO MEU LADO

Hoje eu não quero conversas vestidas de uniforme. Diálogos impecavelmente arrumados que não deixam o coração à mostra. As palavras podem sair de casa sem maquiagem. Podem surgir com os cabelos desalinhados, livres de roupas que as apertem, como se tivessem acabado de acordar. Dispensa-se tons acadêmicos, defesas de tese, regras para impressionar o interlocutor. O único requinte deve ser o sentimento. É desnecessário tentar entender qualquer coisa. Tentar solucionar qualquer problema. Buscar salvamento para o quer que seja.
Hoje eu não quero falar sobre o quanto o mundo está doente. Sobre como está difícil a gente viver. Sobre as milhares de coisas que causam câncer. Sobre as previsões de catástrofes que vão dizimar a humanidade. Sobre o quanto o ser humano pode ser também perverso, corrupto, tirano e outras feiúras. Sobre os detalhes das ações violentas noticiadas nos jornais. Não quero o blábláblá encharcado de negatividade que grande parte das vezes não faz outra coisa além de nos encher de mais medo. Não quero falar sobre a hipocrisia que prevalece, sob vários disfarces, em tantos lugares. Hoje, não. Hoje, não dá. Não me interessam o disse-que-disse, os julgamentos, a investigação psicológica da vida alheia, os achismos sobre as motivações que fazem as pessoas agirem assim ou assado, o dedo na ferida.
Hoje eu não quero aquelas conversas contraídas pelo receio de não se ter assunto. A aflição de não se saber o que fazer se ele, de repente, acabar. O esforço de se falar qualquer coisa para que a nossa quietude não seja interpretada como indiferença. Hoje eu não quero aquelas conversas que muitas vezes acontecem somente para preenchermos o tempo. Para tentarmos calar a boca do silêncio. Para fugirmos da ameaça de entrar em contato com um monte de coisas que o nosso coração tem pra dizer. Além do necessário, hoje não quero falar só por falar nem ouvir só por ouvir. Que a fala e a escuta possa ser um encontro. Um passeio que se faz junto. Um tempo em que uma vida se mostra para a outra, com total relaxamento, sem se preocupar se aquilo que é mostrado agrada ou não. Se aumenta ou diminui os índices de audiência.
Hoje, se quiser, se puder, se souber, me fala de você. Da essência vestida com essa roupa de gente com a qual você se apresenta. Fala dos seus amores, tanto faz se estão perto do seu corpo ou somente do seu coração. Fala sobre as coisas que costuma fazer você sintonizar a freqüência do seu riso mais gostoso. Fala sobre os sonhos que mantêm o frescor, por mais antigos que sejam. Fala a partir daquilo em você que não desaprendeu o caminho das delícias. Do pedaço de doçura que não foi maculado. Da porção amorosa que saiu ilesa à própria indelicadeza e à alheia. A partir daquilo em você que continuou a acreditar na ternura, a se encantar e a se desprevenir, apesar de tantos apesares. Conta sobre as receitas que lhe dão água na boca. Sobre o que gosta de fazer para se divertir. Conta se você reza antes de adormecer.
Hoje, me fala de você. Dos momentos em que a vida lhe doeu tanto que você achou que não iria agüentar. Fala das músicas que compõem a sua trilha sonora. Dos poemas que você poderia ter escrito, de tanto que traduzem a sua alma. Senta perto de mim e mesmo que estejamos rodeados por buzinas, gente apressada, perigos iminentes, faz de conta que a gente está conversando no quintal de casa, descascando uma laranja, os pés descalços, sem nenhum compromisso chato à nossa espera. A gente já brincou tanto de faz-de-conta quando era criança, onde foi que a gente esqueceu como se chega a esse lugar de inocência? Fala da lua que você admirou outra noite dessas, no céu. Da borboleta que lhe chamou à atenção por tanta beleza, abraçada a alguma flor, como se existisse apenas aquele abraço. Diz se quando você acorda ainda ouve passarinhos, mesmo que não possa identificar de onde vem o canto. Diz se a sua mãe cantava para fazer você dormir.
Senta perto e me conta o que você sentiu quando viu o mar pela primeira vez e o que sente quando olha pra ele, tantas vezes depois. Se tinha jardim na casa da sua infância, me diz que flores riam por lá. Conta há quanto tempo não vê uma joaninha. Se tinha algum apelido na escola. Se consegue se imaginar bem velhinho. Fala da sua família, a de origem ou a que formou. Das pessoas que não têm o seu sobrenome, mas são familiares pra sua alma. Fala de quem passou pela sua vida e nem sabe o quanto foi importante. Daqueles que sabem e você nem consegue dizer o tamanho que têm de verdade. Fala daquele animal de estimação que deitava junto aos seus pés, solidário, quando você estava triste. Diz o que vai ser bacana encontrar quando, bem lá na frente, olhar para o caminho que fez no mundo, em retrospectiva.
Podemos falar abobrinhas, desde que sejam temperadas com riso, esse tempero que faz tanto bem. A gente pode rir dos tombos que você levou na rua e daqueles que levou na vida, dos quais a gente somente consegue rir muito depois, quando consegue. A gente pode rir das suas maluquices românticas. Das maiores encrencas que já arrumou. Das ciladas que armaram para você e, antes de entender que eram ciladas, chegou até a agradecer por elas. De quando descobriu como são feitos os bebês. A gente pode rir dos cárceres onde se prendeu e levou um tempo imenso pra descobrir que as chaves estavam com você o tempo todo. Das vezes em que se sentiu completamente nu diante de um Maracanã, tamanha vergonha, como se todos os olhos do mundo estivessem voltados na sua direção. Das mentiras que contou e acreditaram com facilidade. Das verdades que disse e ninguém levou a sério.
Não precisa ter pauta, seguir roteiro, deixa a conversa acontecer de improviso, uma lembrança puxando a outra pela mão, mas conta de você e deixa eu lhe contar de mim. Dessas coisas. De outras parecidas. Ouve também com os olhos. Escuta o que eu digo quando nem digo nada: a boca é o que menos fala no corpo. Não antecipe as minhas palavras. Não se impaciente com o meu tempo de dizer. Não me pergunte coisas que vão fazer a minha razão se arrumar toda para responder. Uma conversa sem vaidade, ninguém quer saber qual história é a mais feliz ou a mais desditosa.
Hoje eu quero conversar com um amigo pra falar também sobre as coisas bacanas da vida. As miudezas dela. A grandeza dela. A roda-gigante que ela é, mesmo quando a gente vive como se estivesse convencido de que ela é trem-fantasma o tempo inteiro. Um amigo pra falar de coisas sensíveis. Do quanto o ser humano pode ser também bondoso, honesto, afetuoso, divertido e outras belezas. Dos lugares onde nossos olhos já pousaram e daqueles onde pousam agora. Um amigo para conversar horas adentro, com leveza, de coisas muito simples, como a gente já fez mais amiúde e parece ter desaprendido como faz. Um amigo para se conversar com o coração.
E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente “nem precisa mesmo de palavras.”

Ana Cláudia Jácomo

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terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A MARCA QUE DEIXAMOS NAS PESSOAS

Quando eu era criança, bem novinho, meu avô comprou o primeiro telefone da nossa vizinhança. Eu ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante que ficava na parede da sala. Eu era muito pequeno para alcançar o telefone, mas ficava ouvindo fascinado enquanto minha mãe falava com alguém.
Então, um dia eu descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era “Uma informação, pôr favor,” e não havia nada que ela não soubesse. “Uma informação, pôr favor”, poderia fornecer qualquer número de telefone e até a hora certa.
Minha primeira experiência pessoal com esse gênio-na-garrafa veio num dia em que minha mãe estava fora, na casa de uma vizinha. Eu estava no quarto de guardar objetos e materiais do meu avô e quando estava mexendo na caixa de ferramentas, bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível, mas não havia motivo para chorar, uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua simpatia. Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido até que pensei: O telefone.

Rapidamente fui até o quarto, peguei uma pequena escada que coloquei em frente à parede da sala onde se encontrava o telefone. Subi na escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido. Alguém atendeu e eu disse: “Uma informação, pôr favor”. Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu ouvido. “Informações”.
-Eu machuquei meu dedo…, disse, e as lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência.
“A sua mãe não esta em casa?”, ela perguntou.
“Não tem ninguém aqui…”, eu soluçava.
“Está sangrando?”
“Não”, respondi.
“Eu machuquei o dedo com o martelo, mas ta doendo…”
“Você consegue abrir o congelador?”, ela perguntou. Eu respondi que sim.
“Então pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo”, disse a voz.
Depois daquele dia, eu ligava para “Uma informação, pôr favor,” por qualquer motivo. Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava Fernando de Noronha. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno gato que eu trouxe da serra como eu deveria alimentá-lo.
Então, um dia Peti meu canário morreu. Eu liguei para “Uma informação, pôr favor” e contei o ocorrido. Ela escutou e começou a falar àquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável.
Eu perguntava: “Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola?”
Ela deve ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente:
“Paulo, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também…”
De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor. No outro dia, lá estava eu de novo.
“Informações”: disse a voz já tão familiar.
“Você sabe como se escreve ‘exceção’?” Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao sul do Atlântico. Quando eu tinha 9 anos, nós nos mudamos para São Paulo. Eu sentia muita falta da minha amiga.  “Uma informação, pôr favor” pertencia aquele velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico branquinho que ficava em uma mesinha na nova sala.
Conforme eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha memória. Freqüentemente, em momentos de duvida ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo. Hoje eu entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um molequinho.
Alguns anos depois, quando estava indo a trabalho em Foz do Iguaçu, meu avião teve uma escala em Maringá. Eu teria mais ou menos meia hora entre os dois vôos. Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por 15 minutos. Então, sem nem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o número da operadora daquela minha cidade natal e pedi: “Uma informação, pôr favor”. Como num milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo:”Informações”.
Eu não tinha planejado isso, mas me peguei perguntando: “Você sabe como se escreve ‘exceção’?”
Houve uma longa pausa. Então, veio uma resposta suave:
“Eu acho que o seu dedo já melhorou, Paulo”.
Eu ri. “Então, é você mesma!”, eu disse. “Você não imagina como era importante para mim naquele tempo”.
“Eu imagino”, ela disse. “E você não sabe o quanto significavam para mim aquelas ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todos os dias que você ligasse”.
Eu contei para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la quando fosse encontrar a minha irmã. “É claro!”, ela respondeu. “Venha até aqui e chame a Stela”.
Três meses depois eu fui a Maringá visitar minha irmã. Quando liguei, uma voz diferente respondeu: ”Informações”.
Eu pedi para chamar a Stela.”Você é amigo dela?”, a voz perguntou.
“Sou, um velho amigo. O meu nome é Paulo”.
“Eu sinto muito, mas a Stela estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente, ela morreu há três semanas”.
Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou: “Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paulo?
“Sim!”
“A Stela deixou uma mensagem para você. Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse. Eu vou ler para você”.
A mensagem dizia:
“Diga a ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender”.
Eu agradeci e desliguei. Eu entendi…

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