segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O AMOR E O VELHO BARQUEIRO

 
Chegando, afinal à margem do grande rio, o Amor avistou três

barqueiros que se achavam indolentes,

recostados nas pedras.
Dirigiu-se ao primeiro:
– Queres, meu bom amigo, levar-me para a outra margem do rio?
Respondeu o interpelado, com voz triste, cheio de angústia:
– Não posso, menino! É impossível para mim!
O Amor recorreu, então, ao segundo barqueiro, que se divertia em
atirar pedrinhas no seio tumultuoso da
correnteza.
– Não. Não posso – recusou secamente.
O terceiro e último barqueiro, que parecia o mais velho, não
esperou que o Amor viesse pedir-lhe auxílio.
Levantou-se, tranqüilo, e, estendendo-lhe, bondoso, a larga mão
forte, disse-lhe:
– Vem comigo, menino! Levo-te sem demora para o outro lado.
Em meio a travessia, notando o amor a segurança com que o velho
barqueiro barquejava, perguntou-lhe:
– Quem és tu? Quem são aqueles dois que se recusaram a atender
ao meu pedido?
– Menino – respondeu,  paciente, o bom remador
-o primeiro é o Sofrimento; o segundo é o Desprezo.
Bem sabes que o Sofrimento e o Desprezo não fazem passar o 
Amor!

– E tu, quem és, afinal?

– Eu sou o Tempo, meu filho – atalhou o velho barqueiro.
– Aprende para sempre a grande verdade.
Só o Tempo é que faz passar o Amor!
E continuou a remar, numa cadência certa, como se o movimento
de seus braços possantes fosse regulado
 por um pêndulo invisível e eterno.
Sofrimento,  desprezo… Que importa tudo isso ao
coração Apaixonado?
O Tempo, e só o Tempo, é que faz passar o Amor.
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