Então, um
dia eu descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal.
O nome dela era “Uma informação, pôr favor,” e não havia nada que ela não
soubesse. “Uma informação, pôr favor”, poderia fornecer qualquer número de
telefone e até a hora certa.
Minha
primeira experiência pessoal com esse gênio-na-garrafa veio num dia em que
minha mãe estava fora, na casa de uma vizinha. Eu estava no quarto de guardar
objetos e materiais do meu avô e quando estava mexendo na caixa de ferramentas,
bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível, mas não havia motivo para
chorar, uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua
simpatia. Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido até que pensei: O
telefone.
Rapidamente
fui até o quarto, peguei uma pequena escada que coloquei em frente à parede da
sala onde se encontrava o telefone. Subi na escada, tirei o fone do gancho e
segurei contra o ouvido. Alguém atendeu e eu disse: “Uma informação, pôr
favor”. Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu
ouvido. “Informações”.
-Eu machuquei meu dedo…, disse, e
as lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência.
“A sua mãe
não esta em casa?”, ela perguntou.
“Não tem
ninguém aqui…”, eu soluçava.
“Está
sangrando?”
“Não”,
respondi.
“Eu
machuquei o dedo com o martelo, mas ta doendo…”
“Você
consegue abrir o congelador?”, ela perguntou. Eu respondi que sim.
“Então
pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo”, disse a voz.
Depois
daquele dia, eu ligava para “Uma informação, pôr favor,” por qualquer motivo.
Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava Fernando
de Noronha. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o
pequeno gato que eu trouxe da serra como eu deveria alimentá-lo.
Então, um
dia Peti meu canário morreu. Eu liguei para “Uma informação, pôr favor” e
contei o ocorrido. Ela escutou e começou a falar àquelas coisas que se
dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável.
Eu
perguntava: “Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta
alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma
gaiola?”
Ela deve
ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente:
“Paulo,
sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também…”
De alguma
maneira, depois disso eu me senti melhor. No outro dia, lá estava eu de
novo.
“Informações”:
disse a voz já tão familiar.
“Você sabe
como se escreve ‘exceção’?” Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao sul do
Atlântico. Quando eu tinha 9 anos, nós nos mudamos para São Paulo. Eu sentia
muita falta da minha amiga. “Uma informação, pôr favor” pertencia aquele
velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atração pelo nosso novo
aparelho telefônico branquinho que ficava em uma mesinha na nova sala.
Conforme
eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha
memória. Freqüentemente, em momentos de duvida ou perplexidade, eu tentava
recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo. Hoje eu
entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo
as ligações de um molequinho.
Alguns anos depois, quando estava indo a trabalho em Foz do Iguaçu, meu
avião teve uma escala em Maringá. Eu teria mais ou menos meia hora entre os
dois vôos. Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por 15 minutos.
Então, sem nem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o número da operadora
daquela minha cidade natal e pedi: “Uma informação, pôr favor”. Como num
milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem,
dizendo:”Informações”.
Eu não tinha planejado isso, mas
me peguei perguntando: “Você sabe como se escreve ‘exceção’?”
Houve uma
longa pausa. Então, veio uma resposta suave:
“Eu acho
que o seu dedo já melhorou, Paulo”.
Eu ri.
“Então, é você mesma!”, eu disse. “Você não imagina como era importante
para mim naquele tempo”.
“Eu
imagino”, ela disse. “E você não sabe o quanto significavam para mim aquelas
ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todos os dias que você
ligasse”.
Eu contei
para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la
quando fosse encontrar a minha irmã. “É claro!”, ela respondeu. “Venha até aqui
e chame a Stela”.
Três meses
depois eu fui a Maringá visitar minha irmã. Quando liguei, uma voz diferente respondeu:
”Informações”.
Eu pedi
para chamar a Stela.”Você é amigo dela?”, a voz perguntou.
“Sou, um
velho amigo. O meu nome é Paulo”.
“Eu sinto
muito, mas a Stela estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava
doente. Infelizmente, ela morreu há três semanas”.
Antes que
eu pudesse desligar, a voz perguntou: “Espere um pouco. Você disse que o
seu nome é Paulo?
“Sim!”
“A Stela
deixou uma mensagem para você. Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você
ligasse. Eu vou ler para você”.
A mensagem
dizia:
“Diga a
ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar
também. Ele vai entender”.
Eu
agradeci e desliguei. Eu entendi…
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