quinta-feira, 22 de março de 2018

Receita da Dona Suzete

Dona Suzete é uma senhora de 92 anos, miúda, e tão elegante, que todo o dia, às 8 da manhã ela já está toda vestida, bem penteada e discretamente maquiada, apesar de sua pouca visão. E hoje ela se mudou para uma casa de uma filha o marido, com quem ela viveu 70 anos, morreu recentemente, e não havia outra solução.
Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando a enfermeira que cuidava dela veio dizer que seu quarto estava pronto. Enquanto ela manobrava o andador em direção ao quarto, eu dei uma descrição do seu pequeno quartinho, inclusive das cortinas de tecido florido que enfeitavam a janela. Ela me interrompeu com o entusiasmo de uma a garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho.
“Ah, eu adoro essas cortinas.”
“Minha Avó Suzete, a senhora ainda não viu seu quarto, espera mais um pouco.”
“Isso não tem nada a ver, ela respondeu, felicidade é algo que você decide por princípio. Se eu vou gostar ou não do meu quarto, não depende de como a mobília vai estar arrumada. Vai depender de como eu preparo a minha expectativa. E eu já decidi que vou adorar. É uma decisão que tomo todo dia quando acordo. Sabe, eu posso passar o dia inteiro na cama, contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem.”
“Simples assim?”
“Nem tanto; isso é para quem tem autocontrole e exigiu de mim um certo ‘treino’ pelos anos a fora, mas é bom saber que ainda posso dirigir meus pensamentos e escolher, em conseqüência, os sentimentos.”
Calmamente ela continuou:
“Cada dia é um presente; e, enquanto meus olhos se abrirem, vou focalizar o novo dia, mas também as lembranças alegres que eu guardei para esta época da vida. A velhice é como uma conta bancária: você só retira aquilo que guardou. Então, meu conselho para você é depositar um monte de alegrias e felicidades na sua ‘Conta de Lembranças’. E aliás, obrigada por este seu depósito no meu Banco de Lembranças. Como você vê, eu ainda continuo depositando e acredito que, por mais complexa que seja a vida, sábio é quem a simplifica.”
Depois me pediu para anotar:
1. Jogue fora todos os números não essenciais para sua sobrevivência. Isso inclui idade, peso e altura. Deixe seu médico se preocupar com eles. Para isso ele é pago.
2. Freqüente, de preferência, seus amigos alegres. Os “baixo-astrais” puxam você para baixo.
3. Continue aprendendo. Aprenda mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa. Não deixe seu cérebro desocupado. Uma mente sem uso é a oficina do diabo. E o nome do diabo é Alzheimer.
4. Curta coisa simples.
5. Ria sempre, muito e alto. Ria até perder o fôlego; ria para você mesma no espelho, ao acordar e que o sorriso seja sua última ‘atitude’ antes de dormir.
6. Lágrimas acontecem. Aguente, sofra e siga em frente. A única pessoa que acompanha você a vida toda é você mesmo. Esteja vivo enquanto você viver e seja uma boa companhia para si mesmo.
7. Esteja sempre rodeado daquilo de que você gosta: pode ser família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for. Seu lar é o seu refúgio, sua mente seu paraíso.
8. Aproveite sua saúde. Se for boa, preserve-a. Se está instável, melhore-a da maneira mais simples: caminhe, sorria, beba água, ore, veja comédias, leia piadas ou histórias de aventuras, romances e comédias.
9. Não faça viagens de remorsos. Viaje para o shopping, para cidade vizinha, para um país estrangeiro, pega carona numa cauda de cometa, imagine os mais diversos objetos formados pelas nuvens no céu, mas evite as viagens ao passado, pois você pode ficar retido na estação errada. Escolha as lembranças que quer ter; não se deixe dominar por elas ou perderá o direito à escolha.
10. Diga a quem você ama que você realmente o ama, e diga isso em todas as oportunidades, através do olhar, do toque, das palavras, das ações diárias e do carinho. Seja feliz com seu próprio sentimento e não exija retribuição; você terá, de graça, o que o outro sentir; nada mais, nada menos.
Autor: Carlos Augusto (Dedicada a minha avó, Suzete Alves Nepomuceno)

Um comentário:

  1. Que esse artigo nos sirva de lição e de como devemos construir nossa vida.

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